21 janeiro 2008

prefácio de Fernando Bonassi ao meu livro "O óbvio dos sábios"

Estava cá comigo bem tranqüilo com a idéia de que os textos se comportariam diferentemente, dependendo de certas operações de sempre que fizéssemos com as palavras, para que as palavras, em sucessão, complementação ou conflito, dissessem mais do que costumam dizer a uns e outros mais distraídos. Estava concentrado nisso...
Era quase uma obviedade de alguém que obviamente se via como uma espécie de sábio, que achava que podia diligentemente dar conta das diferenças entre tudo o que é lido, dito ou escrito.
Seria prosaico, não fosse patético – ou trágico? – esse esforço literário de Sísifo – ou tolice mesmo? – de catalogar os traços da língua...
Mas a língua deve correr solta...
Ainda que exista um texto para se ver (poesia concreta), outro para se ler (a narração que remete ao imaginário) e ainda aqueles para se ouvir (letras de canções, a cadência do rap, das ladainhas e dos ritos religiosos), tem gente que tem o desplante, o desembaraço ou a sintonia fina para captar as filigranas do que cada uma dessas “modalidades” tem de comum.
Isso não é normal, nem corriqueiro e a língua que deixaram correr solta por aí nestas páginas se embaraçou numa trança que confundiu a confiança do que eu supunha saber das coisas das letras e dos seus papéis neste mundo!
Aquele meu mundo caiu e foi Victor Paes o responsável pela minha alegre desilusão, pois a sofisticação desse sábio letrado consiste justamente em operar nos limites e linhas de força da língua, e explodi-los em sons, vozes e paisagens inteiras à disposição do leitor.
Cada aspecto dessa exposição poética guarda em si mesma forma e fala, criando no espaço branco a sua partitura, dando voz tridimensional para o que está, em tese, preso no chão silencioso da página.
Verte dessa sabedoria uma espécie de “música em expansão”, coletando o que parte de dentro de cada um de nós – dos sons dos órgãos, do molhado do sangue e da secura dos ossos – até o plano externo da grande paisagem em imagens de cinemascope.
É uma grande viagem que Victor faz. Vem, vai e marca seu caminho com a precisão de um guia. São encontros e desencontros tramados por versos afiados, que separam o joio do melodrama do trigo da fatalidade.
Há coisa mais óbvia do que o fato de que somos limitados por dentro e excitados por fora?
Estamos aqui para viver, ler e escrever.
Em qual ordem mesmo?
Ordem tem algo a ver com isso?
Não. É uma questão de sobrevivência...
Precisamos viver.
Deveríamos, ao menos, tentar fazê-lo. Exercermos todas as possibilidades e significados, antes de voltarmos ao pó dos livros de condolências.
Aqui há muitas experiências desse tipo.
Encham os pulmões para conhecer.
É um pouco como a ciência de respirar... Porque você vai precisar de ar para entender a complexidade do que é tão simples.
Comece abrindo o que tem nas mãos...
O resto Victor abrirá por si mesmo.

Fernando Bonassi
escritor, dramaturgo e roteirista


Em tempo: “toda assinatura é um suspiro”...

veja o livro clicando aqui

2 comentários:

Anônimo disse...

veja a entrevista que fiz com o Bonassi na Scene4 de março 2008. Imperdível! www.scene4.com
BJOOOO Andrea Carvalho Stark

Anônimo disse...

lindo , lindo o texto do Bonassi pra vc! Parabéns!!!!!Quero conhecer esse livro BJOOO ANdrea