07 agosto 2009

meu poema publicado na coletânea "XXI Poetas de hoje em dia(nte)"

seis facas nas coxas e omoplatas

1
funeral de granizos
(em um dos hemisférios de uma pedra
um enigma para como ajoelhar-se perante as pedras)
cerimônia terçã
tresandando a água

plantadas as abóboras pelas ladeiras
oito mil sombras de arbustos dos telhados
lanternas consertam toldos

– nublado o céu tem liga
(já serem pisadas as chagas
pelos lagartos que vivem nas cruzes)

sob os risos de cavalo das freiras
ninguém decifra as previsões do tempo
ocultas nas dobras de seus leques

2
um dançarino no salão superior
e suas seis facas cravadas
nas coxas e omoplatas
para dançar

e aquele menino
que populava vórtices
e contava algumas datas de trás para frente
quando anda
tem o som deste saco de relógios quebrados, suas molas

3
esta gruta
que tem dentro a retalhá-la
braçadores com braços
a lhe abrir plantas
e água

esta gruta
que tem ex-votos e cálcio
até o terceiro subsolo

para esta gruta
do beiral do poço (ou do prédio (das velas))
um suicida (potes (de picles))
e um palhaço (malabarismo (com malabarismo))
halo de suas cabeças em seu chão consagrado

4
descomplicar arbustos
desritmar portões
mão partida na areia fermentada
dos pratos de planta
uma pressa
ofensa
fissurar
de se livrar dos restos de velas
nos pratos
e panos de pratos

abrir precedentes traduzidos do francês pobre das docas submersas:
“cada mosquito possui dois ou três estômagos imaginários”
“enraizar-se com ouro nos pulmões de prata das crianças”

fechar a noite
por trás dos basculantes

5
três coisas inteiras a se lembrar:
fazer uma entrega em uma esquina com três Ivos
comprar repolhos
e, enfim, justo e bastardo
terminar falando com o eco das avalanches

Um comentário:

Rodrigo Abreu disse...

Li, Reli e me encantei. Parabéns!