25 fevereiro 2014

Veredas: panorama do conto contemporâneo brasileiro

Prefácio da antologia "Veredas: panorama do conto contemporâneo brasileiro", publicada pela editora Oito e Meio e organizada por Anderson Fonseca e Mariel Reis

CONTISTAS DO NOVO SÉCULO

por Rinaldo de Fernandes

Em seu conhecido ensaio “O Narrador”, Walter Benjamin, após identificar o camponês sedentário e o marinheiro comerciante como estando na base de todos os tipos de narradores, tece alguns comentários acerca do romance. Este romperia com a tradição de narradores que sabem aconselhar. É um gênero feito por um indivíduo isolado para um outro indivíduo, também isolado; aquece a alma do leitor com a experiência de vida (ou um “destino em peregrinação”) retratada. E mais: chama o leitor para “refletir” sobre essa experiência. Portanto, não mais o aconselha para nada, como o fariam o camponês sedentário e o marinheiro comerciante, narradores com invólucro de sábios.

Julio Cortázar, na sua teorização do conto, chama a atenção para um aspecto importantíssimo do gênero, que o aproximaria do poema – o fato de ele precisar ter “significação”. Ou ser capaz de uma abertura de sentidos. Isto quer dizer que o conto deve ter a capacidade de irradiar alguma coisa para além do argumento literário, para além do acontecimento narrado. Um conto não deve ser lido pelo enredo em si, mas pelo que ele projeta na inteligência e na sensibilidade do leitor. Numa palavra: pelo que há de implícito nele. 

A noção de “reflexão” em Benjamin é a mesma de “significação” em Cortázar. Os dois pensam a ficção (o primeiro, o romance; o segundo, o conto) como algo que pode possibilitar, além do prazer estético, uma inquietação no leitor. Que o faz pensar sobre as personagens e/ou situações narradas. Cortázar chega a afirmar, a partir de uma série de autores de sua preferência, que um bom conto é um “resumo implacável de uma certa condição humana” ou mesmo um “símbolo candente de uma ordem social ou histórica”. 

A idéia de “significação”, portanto, aponta para a capacidade, em maior ou menor grau, que tem a narrativa literária de nos fazer “refletir” sobre o real. Assim, a literatura, nas pegadas de Benjamin e de Cortázar, é uma forma de conhecimento da realidade.

E é assim que vejo os contos desta coletânea. Como relatos que dão a conhecer facetas do mundo em que vivemos. Situações que dizem muito do homem deste início de século 21.

O conto, sabemos, é múltiplo, apresenta variações. Os autores aqui aderem às várias possibilidades do gênero. Há os contos mais longos (não ultrapassando três/quatro páginas), os mini e os microcontos. Nestes últimos, especialmente, há escritores nesta coletânea com um desempenho formidável. Mas os relatos mais longos também têm força, não deixando de dialogar com a grande tradição do conto brasileiro. No geral, atenuaram-se os experimentalismos, as aventuras da linguagem (típicas do conto brasileiro dos anos 70). A língua falada na rua (e ouvida no rádio e na TV, ou escrita no e-mail) é a que predomina nos relatos aqui reunidos. 

“Díptico – Lado um”, de Altamir Tojal, trata de traição – o conto, com diálogos certeiros, delineia no desfecho o desejo do protagonista de, em seus encontros com a amante, ter também o marido desta na cama (ménage).

“A flor do diabo”, de Anderson Fonseca, dialoga, de certa forma, com a tradição das narrativas de terror. O conto, de ritmo forte, fisga o leitor, conduzindo-o a um desfecho no qual o diabo é o juiz e o protagonista o que assinala a sentença. Para o narrador, num passo metalinguístico, o escritor cultiva “demônios”, transportando-os para o papel.

Em “Le bec et les cigarrettes”, de Antônio Dutra, o tédio assola o protagonista, profundamente desencantado. O narrador anota: “De Da Vinci pra cá a mesma marcha já sem mistério, uma anatomia contendo um conjunto de músculos e ossos que em algum momento te levam à aposentadoria ou ao ortopedista”.

Daniel Russas Ribas traz “Tudo é trivial”, conto sobre um relacionamento um tanto forjado, frio, no qual os protagonistas tateiam a melhor forma de permanecerem juntos: “De uma maneira formal, são íntimos. Trocam trivialidades um com outro sem culpa. É bom. Ninguém se quebra”.

“Estradas e um só muro”, de Fellipi, tem um personagem solitário, sombrio, ensimesmado: “Quando sua garganta ressecou o suficiente, bem ao fundo da saliva, acordou ao mundo outra vez, mundo do ele sozinho e no escuro, outra vez”.

Os minicontos de Fernando Fiorese são intensos, impiedosos. Abrem-se, com poucas palavras, para realidades muito além daquela contida no relato. “Por empréstimo”, em que um defunto veste um terno usado, é muito cruel, à la Dalton Trevisan.

Francisco Slade também produz contos curtos, sugestivos. “Subterrâneo” flagra uma situação num metrô. Em poucos passos, é desvendada a alma da protagonista, a sua insegurança diante da inexorabilidade do tempo. 

Geraldo Lima escreve microcontos primorosos, como este: “Já estava deitado quando ela chegou, tarde, esbarrando nos móveis e tateando no escuro em busca do banheiro”. Tudo aí está dito – e numa única frase.

Leandro Jardim, em “Um fim dos fins”, traz um protagonista angustiado, com um diagnóstico terminal. Conto tenebroso e de desfecho surpreendente.

Em “De quando vivemos em guerra”, de Leonardo Villa-Forte, um exército descumpre as ordens de um general. A narrativa discute a vulnerabilidade do poder. 

Márcia Barbieri é uma contista implacável. Opta pelo bizarro, pelo grotesco. “Mosca morta” e “Kamila”, mesclando Eros e Tânatos, se sedimentam num erotismo cru.

De conteúdo fortemente erótico também é “A Aula”, de Mariel Reis, conto bem tramado. Uma professora, com os devidos disfarces, tem um orgasmo em plena sala de aula.

“O menino e o lobo”, de Nilto Maciel, tem uma carga poética muito forte. São criadas situações especulares para os protagonistas à beira de um lago. Belo conto!

A prosa apurada, admirável, de Pedro Salgueiro se faz presente em “Fronteira” e “Mecanismo”. O primeiro, de um absurdo kafkiano, traz um protagonista que vigia ostensivamente o seu inimigo. O segundo, emblema do patriarcalismo, de suas deformações, relata os ritos de uma família: “Papai no seu lugar por direito; mamãe na posição mais cômoda para servi-lo”.

“Fosso, fossas”, de Ronaldo Cagiano, atrai, entre outras coisas, pelas metáforas bem elaboradas, embutidas na narrativa: “A alma também é um terreno marcado pelos anos de hiato e sofrimento”; “o vazio continua fazendo as honras da casa”. Conto de atmosfera asfixiante, sobre a degradação de um relacionamento.

“A chuva dilui e mistura as cores no mapa”, de Tony Monti, tem intensidade poética (já a partir do título). Trata da busca amorosa. 

“Donzela”, de Victor Paes, aciona fontes inconscientes. É narrado na forma de um sonho, de um quase pesadelo, atribulando o leitor.

Finalmente, o impiedoso “Lúcifer”, de Whisner Fraga. Conto muito bem armado, sobre um grupo de estudantes que parte para eliminar um cachorro – com frases iniciando sem maiúsculas (o que gera um ritmo intempestivo, imprevisto, aparentando agressividade; a mesma agressividade que, no fim, assalta os protagonistas), tem suspense e prende a atenção do leitor. Ótima narrativa.

Os organizadores conseguiram reunir neste volume um conjunto expressivo de relatos que, sem dúvida, são representativos da narrativa curta que se faz hoje no Brasil.
Boa leitura!

15 julho 2013

Outubro em Frankfurt

Já está pronta a antologia Minigeschichten aus Brasilien, de microcontos brasileiros, organizada por Luísa Costa Hölzl para a editora alemã DTV, com tradução primorosa de Wanda Jakob. Que orgulho estar nessa antologia, ao lado desse timaço de respeito: Tata Amaral, Marçal Aquino, Beatriz Bracher, Marcelino Freire, Andrea del Fuego, Ivana Arruda Leite, Adriana Lisboa, José Rezende Jr., Sidney Rocha, Luiz Ruffato, Walther Moreira Santos e Veronica Stigger. Parabéns, Luísa e Wanda, e muito sucesso para a edição!



http://www.dtv.de/buecher/microcontos_minigeschichten_aus_brasilien_9518.html

Microcontos do Brasil – Concentrar com precisão a grandeza da vida no conciso espaço da linguagem é a arte do microconto, um gênero que é muito popular na literatura da América do sul. A abrangência temática é extensa. Muitas das narrativas dos autores e autoras brasileiros aqui reunidas são embasadas diretamente no cotidiano e, por isso, formam um espelho da sociedade. Afiados e densos, lírico-impressionistas, ou irônico-humorísticos, por sua brevidade, esses textos são acolhedores e propícios tanto para seu próprio estudo, como para o ensino da língua.

05 junho 2013

Novo conto

Meu novo texto em minha coluna Korova Milk Bar, no Musa Rara. Desta vez, um conto... uma pequena fábula sobre o que anda acontecendo por aí com a cabeça das pessoas...

01 abril 2013

Poemas novos

Amigos, após um bom tempo na prosa, volto à poesia com três poemas novos. Estão no ar na bela revista Mallarmargens. Convido-os a darem uma olhada...

http://www.mallarmargens.com/2013/04/3-poemas-de-victor-paes.html




três lendas


1

um objeto marinho
para ser dado a um moleque, pular de uma caixa,
precisa de ar comprimido

a bomba da cidade
é do galpão de Seu Esquina
mas se sabe ter medo desde criança
de lhe pedir que não seja para pneu

então se manda uma prima
de vestido
com a história do presente

mas falar de brinquedo
não de mar:

nessa cidade, esse cuidado também
deve ser nato
para se aprender em segredo
que, assim como a terra é para o ar,
o ar é para o mar
e o mar existe

12 setembro 2012

"Deus ex machina" no Pensar

Resenha de André di Bernardi, no Estado de Minas.



quase um sábio chinês

Com o volume de contos Deus ex machina, o carioca Victor Paes mostra estilo próprio e desenvoltura em histórias desconcertantes

A poesia nunca se prende, ela nunca se restringe ao verso. O carioca Victor Paes é poeta e parece que sabe disso. Ele acaba de lançar, pela Editora Confraria do Vento, Deus ex machina, no qual apresenta um interessante panorama do ser humano, apontando falhas e possíveis acertos. Este bom escritor lida com as palavras com a atenção, com os cuidados de um jardineiro, com a atenção de um sábio chinês.

Victor soube esperar para colher, no tempo certo, o verbo pronto, saído sabe-se lá de onde, dos desvãos, dos “de dentro” do peito, da alma que insiste em chamas. Victor soube colher, assim, o verbo lúcido, com toda a sua doçura natural, ou com o acerbo, que melhor define, que melhor descortina as cenas, a ambiência dos contos de Deus ex machina.

Victor costura, com delicadeza, às vezes com uma paciência certeira, um mosaico sobre as cores da alma, descortina um panorama que traz uma atmosfera – sempre densa – de incertezas e enganos. Tudo que acontece de um lado não necessariamente ocorre ou interfere no outro lado. Victor, com os seus contos – que são também pontes –, nos lembra que existem jardins de beterrabas, brincos, ele alerta que existem tipos, existem pessoas prontas para matar. Existem pessoas que, apesar de tudo, seguem o ritmo de suas vidas, a despeito do desacerto e das cicatrizes.

O autor carioca prefere o soco instantâneo, rápido. A falta de fôlego empresta cores duras aos textos. Victor é dono de um estilo, acima de tudo, bom, mas corrosivo, como deve ser a essência das coisas que queimam. Não se trata de literatura de entretenimento. Na contramão, mas atento, Victor prefere os seus, os nossos tantos inversos. Com todas as cartas na manga, Victor, contudo, considera e respeita a ordem natural das coisas que existem. Os opostos fascinam bem mais que as simetrias ilusórias. Victor preza o que existe de intenso, o tenso que sobra da vida, as sobrecargas.

O sumo, o cerne, a essência, a parte interna dos mecanismos da vida. Victor elege, de forma às vezes bruta, este alvo impreciso. Ele mira o incerto e joga um bom jogo com as palavras. O interessante é que surge deste movimento uma sensação de improviso, em que todos acabam vencidos. Victor tem um estilo próprio, corajoso, que vai de encontro, que não recua, que avança como avançam os melhores cães. Percebe-se, em alguns contos, uma certa raiva, um descontentamento promissor, arma que serve de combustível para bons textos, para boas escolhas. Victor não perde o prumo, não perde o tino e o foco de sua atenção. É do cotidiano que surgem os melhores descobrimentos, os mais puros, os mais desconcertantes.

SUSTOS E SOCOS

O autor de Deus ex machina transita num ambiente, numa ciranda conturbada, nas ambivalências de uma ciranda sem flores.O meio-termo não existe para certas velocidades. Certos textos, certas histórias só poderiam existir no formato do conto. Existem ventos súbitos. Existem, a cada passo, à espreita, um punhado de sustos, um bocado de socos. Victor revida, num contra-ataque sem gols.

Victor prova do amargo e sente que tudo se cola, que tudo é junto, luz e sombra, falta e sobra. Victor apenas escreve, sem maiores objetivos, pois talvez percebeu que a mudança de rumos independe de lágrimas ou possíveis alegrias. As verdadeiras mudanças ocorrem seguindo uma rota estranha, obedecendo a forças sempre misteriosas.

Victor Paes é escritor, ator e editor da Confraria do Vento. Publicou Mas para todos os efeitos nada disso aconteceu (Dulcineia Catadora, 2010), além do livro de poesia O óbvio dos sábios (Confraria do Vento, 2007). Tem publicados contos e poemas em diversas revistas e sites. Participou das coletâneas 24 letras por segundo (Não Editora, 2011), organizada por Rodrigo Rosp, e XXI poetas de hoje em dia(nte) (Letras Contemporâneas, 2010), organizada por Priscila Lopes e Aline Gallina.

19 julho 2012

À minha filha, caso um dia nasça

Já está no ar, no Musa Rara, o novo texto de minha coluna.

À minha filha, caso um dia nasça

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Victor Paes envia-nos mais um texto para a sua coluna KOROVA MILK BAR.
Antes de tudo, minha filha, saiba que nesse momento você possui uma vantagem imensa em relação a nós que já nascemos: no estado em que você está, nada vai para um lado ou para outro. Aqui o que não faltam são teorias sobre o que seja ir para um lado ou para outro. E dessa angústia, caso um dia nasça, você não vai escapar. Aqui é um território de bichos que olham as coisas e, ao mesmo tempo, realizam essa operação cerebral humana muito sofisticada e difícil de explicar que é pensar sobre as coisas. E fazemos isso tão distraidamente bem, que em algumas situações chegamos simplesmente a esquecer que estávamos parados olhando uma coisa. Pois bem, é esse bicho que você, caso nasça, vai ser.
Texto completo aqui.

03 maio 2012

"Deus ex machina" na Folha

Uma das 88 dicas de livros, filmes e discos publicadas no Guia da Folha de São Paulo. Indicação, com uma pequena resenha, de Ronaldo Bressane.


12 abril 2012

‎"Deus ex machina" no Suplemento Cultural Pernambuco

Por Marco Polo Guimarães

"O carioca Victor Paes é um dos fundadores do site Confraria do Vento, que desde a primeira edição revelou um alto nível nos projetos gráfico e editorial. Pouco tempo depois foi lançada a revista física da Confraria que, por fim, tornou-se uma pequena editora, tendo, inclusive, assimilado a Caliban, e mantido o catálogo desta sob forma de coleção. As edições da Confraria permanecem fiéis ao ideário de excelência que desde o início norteou o jovem grupo. Agora, Victor Paes lança 'Deus ex machina', seu segundo livro de contos. Neles, o milagre da infância torna paradoxalmente mais nítido o cotidiano, a surpresa é a dobradiça que mantém a porta que se abre para um ambiente inusitado, a precisão da linguagem reafirma um narrador maduro. Enfim, um excelente livro."


http://www.suplementopernambuco.com.br/index.php/edicoes-anteriores/609.html

08 abril 2012

orelha de "Deus ex machina", por Italo Moriconi

Com seus contos, Victor Paes reforça de maneira bastante pessoal uma nova tendência na ficção brasileira, que aponta para a revalorização do caráter encantatório da literatura. O leitor é que sai no lucro, energizado pelo prazer de ler proporcionado pelas narrativas deste Deus ex machina. Se para Cortázar o conto devia ser escrito e lido na velocidade de um nocaute, temos aqui vinhetas narradas na velocidade da luz (ou dos neutrinos). O mais notável é que a vertigem provocada por elas resulta dos nada desprezíveis recursos estilísticos e poéticos manejados pelo autor, com deslizamentos (metonímicos), elipses e alusões produzindo o mencionado elemento encantatório, que pode vir ligado ao perturbador ou mesmo ao melancólico. Habilidade, originalidade, rigor: no aparente desalinho deste contar, há sempre uma linha a perseguir. Em geral, são fios de relações familiares que se enredam e desenredam, misturando imaginação e realidade. E assim chegamos à zona de intelecção que é tocada e aberta pelos contos de Victor Paes: o campo onde se superpõem fato real, fato imaginado, pura impressão. O esforço de captar o poder do imaginado me parece constituir outra marca presente na cena literária de agora (2011), o que torna estes contos, além de originais, também necessários.

Italo Moriconi

29 fevereiro 2012

A arquitetura das úlceras

Estreia de minha coluna Korova Milk Bar no site Musa Rara. Mais mal-humorado impossível...

  • A arquitetura das úlceras

    Pedro_Américo_valendo_1

    O poeta, editor e ator Victor Paes
    estreia a coluna KOROVA MILK BAR.
    Confira.

  • 14 fevereiro 2012

    Octavio Paz

    Trecho de "Pedra de sol", de Octavio Paz, tradução de Horácio Costa (Demônio Negro, 2009)

    (...)
    tudo se transfigura e é sagrado,
    é o centro do mundo cada quarto,
    é a primeira noite, o primeiro dia,
    o mundo nasce quando dois se beijam,
    gota de luz de entranhas transparentes,
    o quarto como um fruto se entreabre
    ou explode como um astro taciturno
    e as velhas leis roídas pelos ratos,
    as grades dos cárceres e dos bancos,
    as grades de papel, grades farpadas,
    os sinetes, os segredos e as chaves,
    o sermão monocórdico das armas,
    o falso escorpião com seu capuz,
    o tigre de cartola, Presidente
    do Club Vegetariano, da Cruz Vermelha,
    o burro pedagogo, o crocodilo
    metido a Redentor, a pai de povos,
    o Chefe, o Tubarão, o porco uniformizado,
    o filho dileto da Santa Madre
    que escova sua negra dentadura
    na água benta do altar e toma aulas
    de inglês e democracia, as paredes
    invisíveis, as putrefatas máscaras
    que dividem o homem de outros homens,
    o homem de si mesmo,
    derrubam-se
    por um instante imenso e vislumbramos
    nossa unidade perdida, o abandono
    de ser homens, a glória de ser homens,
    e repartir o pão, o sol, a morte,
    o esquecido assombro de vivermos;
    (...)

    13 fevereiro 2012


    Crônica de Nilto Maciel com suas impressões sobre os livros "Começo de caminho: o áspero amor", de Renard Perez, "Melhores poemas", reunião de poemas de Ruy Espinheira Filho, "Poesia é isso", de Lohan Lage Pignone, e o meu "Deus ex machina".
    http://literaturasemfronteiras.blogspot.com/2012/02/folhas-verdes-e-pimentoes-no-pre.html



    16 janeiro 2012

    Meu avesso é mais visível que um poste

    Fui assistir na última semana sexta o espetáculo "Meu avesso é mais visível que um poste", texto e direção de Emanuel Aragão. Impecável. Texto, direção, elenco, música, luz, tudo. Das risadas mais nervosas e profundas. Digo, sem nenhum medo de errar ou exagerar, que esse cara é um dos melhores escritores brasileiros contemporâneos. Orgulho de o termos em nossa Confraria. Recomendo a peça com entusiasmo absoluto...