31 janeiro 2007

Primeira idéia

Alguns dos que articulavam sua preocupação com a praia, seja pelo perigo ancestral de retomar seus pulmões de areia ou por simplesmente ser um lugar insuportavelmente impreciso entre terra e mar, construíram sobre ela, e como arrecife, um imenso prédio protegido por tintas de navio e óleo de algas venenosas. Sua cobertura debruçava trepadeiras floridas, sementes viáveis em águas salgadas, como ofensas ao mar quase sempre prontas. As janelas de cristal, violentas piadas sobre a transparência das águas, e a própria areia da praia usada na fachada pareciam ostentar uma espécie de ironia, parede total a ignorar a sorte das ondas.

Por muito tempo confiaram no prédio, apesar do único dia, já há muitos anos, e já superado, em que chegaram a sentir medo.

Não contaram é com o silêncio do mar. Um silêncio tão violento, que um dia, como se essa violência se tornasse uma pancada, derrubou a construção.

2 comentários:

Beatriz Rodrigues disse...

Que bela surpresa encontrar teu blog através do confraria. Amei tua escrita. Amei as tuas fotos.
Difícil encontrar escrita visceral nestes espaços virtuais tão frios, creio não estar procurando (?) corretamente, porventura seja até mais interessante este ‘esbarrar’ despretensioso. Sim, o é. Povoamentos...

O silêncio da maré, incólume tessitura, levou a construção.
Não sobrara palavra.

Favorito! Um beijo.

Anônimo disse...

Muito bom. Estamos todos, frágeis humanos, nesse edifício de vidro à beira do mar. Abraço, parabéns e continue talentoso!