15 abril 2008

A excursão à montanha
de Franz Kafka

– Não sei – exclamei sem voz –, realmente não sei. Se não vier ninguém, não vem ninguém. Não fiz mal a ninguém, ninguém me fez mal, e contudo ninguém quer ajudar-me. Absolutamente ninguém. E entretanto não é assim. Simplesmente, ninguém me ajuda; se não, absolutamente ninguém me agradaria. Eu gostaria muito – por que não? – de fazer uma excursão com um grupo de absolutamente ninguém. Naturalmente, à montanha; aonde mais? Como se apinham esses braços estendidos e entrelaçados, todos esses pés com seus inúmeros passinhos! Certamente, todos estão vestidos a rigor. Vamos tão contentes, o vento coleia pelos interstícios do grupo e de nossos corpos. Na montanha nossas gargantas sentem-se livres. É assombroso que não cantemos.

tradução de Torrieri Guimarães

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