poema que apresentei no evento Boca de Baco, escrito sobre a música "Que carro de boi é esse?", de Pedro Osmar e Loop B:
1
vai, inteligência de aviamentos
(são três, e isso é ser exatamente quatro)
vai, porque tudo escuta, um mover-se dentro
vai, até onde o tempo acaba
pois é lá que tudo se configura:
o tempo acaba nas bordas dos objetos
2
Alberto fugiu da escola com dois brinquedos verdes
foi encontrado entre a tarde e a noite
a não mais querer voltar de lá
Alberto foi a última palavra que Alberto aprendeu
(aprendeu antes “extintor” e “sumidade”)
uma vez tentou acordar antes do despertador
mas ele não tocou
gosta de tirar farpas dos dedos de seu avô
e abre envelopes melhor com os dentes
diz que sofre de elogios
mas calcula vaias
Alberto não fala de si
muito menos em público
3
vai, e encontra o centro do maior objeto de seu quarto
pois é lá que fica escondido um apito de lembrar silêncio
objeto, ainda assim
vai, porque pessoas são objetos três vezes ao dia
4
Alberto se pergunta: até que horas vale o jornal do dia?
uma vez inventou o objeto mais transparente do mundo:
um brinquedo, para seu irmão morto brincar
mas era tão transparente,
que, numa distração, nunca mais o encontrou
Alberto tem um assobio sem remédio em seu ouvido
que herdou com um carro de boi de seu avô
Um comentário:
Putz. Muito lindo. Parece Manoel de Barros. :)
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