22 julho 2010

Yasunari Kawabata

conto de Yasunari Kawabata, do livro "Contos da palma da mão"
(Editora Estação Liberdade, 2008, tradução de Meiko Shimon)


O pôr-do-sol (Rakujitsu, 1925)

No pátio de uma agência de correio de segunda categoria, uma mulher míope escreve, apressada e atrapalhada, um cartão postal do tipo fechado como envelope.

"A janela do trem — A janela do trem — A janela do trem", três vezes, escrevendo e apagando, "Agora — Agora — Agora".

Um funcionário encarregado de correspondências expressas coça a cabeça com o lápis.

Uma garçonete, na cozinha de um grande restaurante, pede ao cozinheiro para dar um laço nas tiras do seu avental.

— Quer que eu amarre atrás? Atrás não é o passado? Deixa eu enlaçar os seios.

—Ih!

Até mesmo um poeta compra açúcar. O garoto aprendiz da loja finca uma enorme colher num monte de açúcar.

— Não. Desisti de ir pra casa e assar mochi — diz o poeta. — Se eu perambulasse pelas ruas com o açúcar no bolso, talvez surgissem imaginações brancas.

Assim, o poeta murmura para as pessoas que passam por ele:

— Olá, minha gente! Estão indo para o passado! Eu caminho para o futuro. E, nesse caso, quem vai na minha direção? Também para o futuro? Não, não... Absurdo!

A bicicleta do rapazinho do correio dá voltas ao redor da mulher míope.

— Olhe! Olhe!

— Ah! Sou míope. Nem enxergo o açúcar branquinho da loja. Então, quando pensei que ele estava com aquela mulher na janela do trem, foi um...?! Quer dizer que ele me... mesmo agora! Ei, carteiro, por favor!

O poeta e a garçonete estão sorridentes no restaurante.

— Está de avental novo, hein? Deixa eu olhar atrás, para a borboleta branca novinha que pousou nas suas costas — diz o poeta.

— Ah, não! Não quero que veja o meu passado.

— Está certo. Eu estava andando para o futuro, e aí cheguei aqui junto de ti.

Nesse momento, o sol, até então preso no telhado do depósito da casa de penhores, na extremidade oeste dessa rua que nasce no leste, se pôs, deslizante e sem ruído.

— Ufa! — As pessoas que caminham por essa rua, nesse instante, deixam escapar um pequeno suspiro, e desaceleram só três passos. No entanto, não se dão conta disso.

As crianças que brincam na extremidade leste da rua se voltam para oeste, encolhem suas pernas e saltam alto. Tentam com seus olhos captar o sol que se pôs.

— Estou vendo!

— Estou vendo!

— Estou vendo!

Claro que é mentira. Não estão vendo nada...

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